Condição de Trabalho: uma necessidade de saúde


Recentemente mudei de emprego. Não que eu não gostasse do antigo; pelo contrário. Gostava muito da agitação e de ter muitas tarefas diferentes, mas especialmente gostava do contato com os pacientes e com a equipe, por mais difícil que seja nos relacionarmos com tantas pessoas diferentes. O que me fez mudar de emprego, mesmo que o atual seja ainda mais distante de casa, foram as condições de trabalho oferecidas.
Especialmente desde quando conheci a Saúde Coletiva tenho me atentado mais às necessidades de saúde – minhas e dos outros. Entendo que além de condições ideais de moradia, transporte, alimentação e lazer, para ter nossas necessidades de saúde atendidas é muito importante termos boas condições de trabalho.
Nos dias de hoje principalmente a cidade de São Paulo está com o sistema de saúde (SUS) privatizado. Trata-se de organizações sem fins lucrativos que administram as unidades de saúde de forma geral com o dinheiro público: hospitais, ambulatórios, UBS (antigo Posto de Saúde), AMA, Caps. Algumas unidades têm apenas os recursos humanos, isto é, os trabalhadores organizados pelas empresas e outras são totalmente administradas por estas. Há ainda as unidades da prefeitura, que são raridades na cidade e recebem cada vez menos recursos para manter o funcionamento, com funcionários fazendo serviços diferentes daqueles de suas especialidades e sem receber nenhum tipo de investimento de qualquer ordem.
Os trabalhadores dessas organizações, então, são contratados sob regime CLT (“carteira assinada”) e cobrados de produção diariamente, sob o risco de serem demitidos caso não cumpram as metas. O resultado disso são atendimentos rápidos e com pouca qualidade à população, profissionais não necessariamente qualificados ou especialistas para exercer as diferentes funções, adoecimentos freqüentes dos trabalhadores, alta rotatividade dos profissionais nas unidades de serviço, instabilidade profissional e salários baixos. Isto é, em geral, nenhum profissional da saúde pública da cidade de São Paulo atualmente tem boas condições de trabalho, apesar de serem CLTistas. Inclusive eu.
No entanto, dentre as várias organizações há condições melhores e piores de trabalho. No meu caso, recebi uma proposta de uma organização que aparentemente tinha melhores condições (soube disso através de colegas), então mudei de trabalho e não me arrependi. Antes eu estava sempre com o trabalho atrasado por minha unidade abranger um território de 550.000 pessoas, tinha muitas atividades semanais e responsabilidades que não condiziam com minha categoria profissional. Hoje tenho um tempo maior para desenvolver meu trabalho, o território tem no máximo metade de habitantes do antigo emprego, meu horário é fixo, porém quando há imprevistos é possível negociar com minha chefia, que está sempre próxima dos trabalhadores. Entendo que tenho melhores condições de trabalho e sinto que ainda tenho energia para continuar meu dia após minhas 6 horas de trabalho na organização.
Por mais difícil que essa mudança tenha sido – do dia para a noite, sem poder despedir-me dos pacientes e da equipe de trabalho, ela contribuiu para melhorar minha qualidade de vida, exatamente como é descrito pela Saúde Coletiva.
Uma salva de palmas para o Sr. Karl Marx!

Sobre Luciana Cordeiro
Terapeuta Ocupacional especialista em Saúde Mental . Mestranda em Saúde Pública na USP. Atuação em Psiquiatria e Dependência Química.

2 Responses to Condição de Trabalho: uma necessidade de saúde

  1. Jéssica says:

    Uma mudança em nossas vida é sempre dificil , seja qual for dela a importancia ou dimensão .
    Que bom que está se dando bem no novo trabalho , fico feliz . Mais claro que nao vou negar que a falta que voce faz no AD é irreparável né ! rsrsrs

    Beijos, Boa noite !

  2. Lu, concordo totalmente com vc. Boas condicoes de trabalho eh essencial para a saude. Parabens por ter conseguido o emprego e ter tido a coragem de fazer uma mudanca tao importante. =) Muito sucesso nessa nova etapa!!!!!
    Mil bjosss

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